quinta-feira, 20 de março de 2008

Um Pouco de História


Há algum tempo atrás, navegando por águas desconhecidas, encontrei a história do programa PING. Aquele que todos usamos para testar a conectividade entre um ponto e outro da rede e, ao contrário do que muitos acreditam, o nome PING não é nenhum acrônimo (ou coisa parecida). Este nome foi inspirado no som produzido por um sonar ao encontrar um objeto... Toda esta história está na página do criador do programa, o sr. Mike Muuss.

Esta história me fez lembrar uma outra história passada já em terras brasileiras e contada também por quem fez (e continua fazendo) história. "Os Primeiros Pings" é o título de uma reportagem publicada no jornal Estado de São Paulo em 1/11/2004 quando houve a "comemoração" dos 35 anos de "criação" da Internet e descreve como o Brasil - representado na época pela Fapesp - conectou-se pela primeira vez à Internet. Demi Getschko, um dos responsáveis pelos primeiros pings disparados do Brasil, é quem assina esta reportagem.

Duas histórias que valem a pena, nem que seja para puxar um papo high-tech com o seu avô na macarronada do próximo domingo! :-)

Atualizado em 24/03/2008: Como o link para a reportagem "Os Primeiros Pings" geralmente não funciona, estou colocando ela aqui na íntegra:



Os primeiros "pings"

Demi Getschko

A Bitnet já estava em uso há uns dois anos. Na linha que ligava a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) ao FermiLab, em Batavia, Illinois, rodava um procolo da DEC (o DecNet) e, sobre ele, o protocolo da IBM usado para o Bitnet (o RSCS). E isso em 4800 bps!

Um belo dia, entra em minha sala o Geraldo (prof. dr. Geraldo Lino de Campos): - Demi, a tendência clara nos EUA é uma migração em massa para TCP/IP, Internet. Precisamos incluir TCP/IP na linha.

Se havia alguém que podia fazer isso – colocar três protocolos, sérios e pesados, numa linha de 4800 – era Gomide (Alberto Courrege Gomide), o mago do software na Fapesp. Ele foi atrás de soluções e encontrou o MultiNet, do melhor jeito que dava. E o troço nem barato era, especialmente para os padrões acadêmicos!

Afinal, chegou a caixa com as fitas (DecTape à época). O Joseph (Joseph Tannous Moussa, um libanês que tinha feito computação na USP e trabalhava na Fapesp) não resistiu à tentação e começou a instalar o pacote. Janeiro, período de férias coletivas na Fapesp e, ainda por cima, sábado. Passamos a tarde inteira instalando o Multinet. Afinal, funcionou! Restava acertar o lado de lá. Gomide, numa visita ao Fermilab, soube que o laboratório estava também em fase de passar ao TCP/IP, integrando a EsNet (Energy Sciences Network): “assim que o Fermi estivesse conectado à internet, nos também estaremos!”

Agora, buscar endereços!: para estar na rede, alguém precisa de números IP. E números IP quem distribui é a IANA (Internet Assigned Numbers Authority). IANA é a outra forma com que era conhecido Jon Postel, um dos criadores da rede e uma das ausências ainda hoje mais sentidas e difíceis de suprir na Internet (Postel morreu em 1998).

Michael, da PUC do Rio (prof. Michael Stanton) já havia pedido e conseguido o primeiro subconjunto de números IP para uma instituição brasileira: a rede classe B 139. 82.*.*. Pedimos ao Postel, de cara, três classes B: para a Unicamp, a USP e a Fapesp, e recebemos as 143.106.*.*; 143.107.*.*; 143.108.*.* . Cenário completo e armado. Nossa "poderosa" linha de 4800 bpd transportaria também pacotes TCP/IP sobre o DecNet básico, via software. A linha já estava com 100% de ocupação, 98% do tempo mas, mesmo assim, alguns pacotes conseguiram pingar entre o fpsp.fapesp.br e o fnal.gov. Era janeiro de 1991 e a Internet chegava, em conta-gotas, ao Brasil...

Demi Getschko, é pioneiro da internet no Brasil.

2 comentários:

Vinicius Buscacio disse...

Maneiro...muito show essa história.

Léo Lino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.